Coincidências existem, isto é fato! Numa destas fui posta frente à frente com Clarice. Encontramo-nos. Admirei-a deste o primeiro instante! O delinear dos seus olhos aprisionou-me. Seus mistérios me envolveram, não com o pernicioso intuito de desvendá-los, e, sim de preservá-los. Seu pulsante e indecifrável amor-paixão pela escrita me cativa e, de modo bastante pretensioso, porém sincero, conduz meu escrever sem medo, destituído de amarras, quando e onde quero, no silêncio do meu ser ou no barulho do meu viver.
Neste post, trago para vocês um recorte do texto-montagem "Que mistérios tem Clarice?" de Renato Cordeiro Gomes disponível no livro "Clarice Lispector: seleta" da Coleção Brasil Moço, editado pela Livraria José Olympio Editora, datado de 1975.
Clarice não gostava de ceder entrevistas. Neste texto há a conversa informal, Clarice esta em volta dos seus filhos e de suas letras, pois a máquina de escrever não sai do colo. Por coincidência encontrei, por curiosidade li, por amor às palavras da diva reescrevo-as:

"Recebo de vez em quando carta perguntando-me se sou russa ou brasileira, e me rodeiam de mitos. Vou esclarecer de uma vez por todas: [...]nasci na Ucrânia, terra de meus pais.[...] Cheguei ao Brasil com apenas dois meses de idade. Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. Comecei a escrever pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro. Criei-me em Recife, e acho que viver no Nordeste ou Norte do Brasil é viver mais intensamente e de perto a verdadeira vida brasileira que lá, no interior, não recebe influência de costumes de outros países. [...] Quanto a meus rr enrolados, estilo francês, quando falo, e que me dão um ar de estrangeira, trata-se apenas de um defeito de dicção [...]. Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. [...] Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca. E nasci para escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E no entanto cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. cada livro meu é uma estréia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que chamo de viver e escrever. Quanto a meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. [...] Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. [...]
Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é o meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nehuma garantia.
Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou de encontro ao que se espera. [...]".
O texto-montagem na íntegra encontra-se no livro citado que, além, das revelações da assumida mulher misteriosa Clarice Lispector, contém contos e respectivas análises.
Abçs...Lindy Cardoso!
Neste post, trago para vocês um recorte do texto-montagem "Que mistérios tem Clarice?" de Renato Cordeiro Gomes disponível no livro "Clarice Lispector: seleta" da Coleção Brasil Moço, editado pela Livraria José Olympio Editora, datado de 1975.
Clarice não gostava de ceder entrevistas. Neste texto há a conversa informal, Clarice esta em volta dos seus filhos e de suas letras, pois a máquina de escrever não sai do colo. Por coincidência encontrei, por curiosidade li, por amor às palavras da diva reescrevo-as:

"Recebo de vez em quando carta perguntando-me se sou russa ou brasileira, e me rodeiam de mitos. Vou esclarecer de uma vez por todas: [...]nasci na Ucrânia, terra de meus pais.[...] Cheguei ao Brasil com apenas dois meses de idade. Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. Comecei a escrever pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro. Criei-me em Recife, e acho que viver no Nordeste ou Norte do Brasil é viver mais intensamente e de perto a verdadeira vida brasileira que lá, no interior, não recebe influência de costumes de outros países. [...] Quanto a meus rr enrolados, estilo francês, quando falo, e que me dão um ar de estrangeira, trata-se apenas de um defeito de dicção [...]. Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. [...] Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca. E nasci para escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E no entanto cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. cada livro meu é uma estréia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que chamo de viver e escrever. Quanto a meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. [...] Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. [...]
Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é o meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nehuma garantia.
Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou de encontro ao que se espera. [...]".
O texto-montagem na íntegra encontra-se no livro citado que, além, das revelações da assumida mulher misteriosa Clarice Lispector, contém contos e respectivas análises.
Abçs...Lindy Cardoso!