segunda-feira, 28 de março de 2011

Mais uma vez...


Mais uma vez lá vai ela. Pela rua andando, driblando os percalços dispostos no caminho. Singelos passos. Leveza no coração. Sorriso a brilhar nos olhos. Lindos olhos. A boca fechada fala com os ouvidos abertos. Sente em cada andante, vê em cada pedra do calçamento, ouve nos gestos, passos lentos, ágeis, de rodas: um gosto, um cheiro doce, umas palavras mal vistas, mal faladas, de poesia.

Nunca gostou de poesia até conhecer as entrelinhas do seu reflexivo mundo exterior. “Este mundo não é meu!”. Já sentistes assim? Reflexiva, ela vive fora do mundo. Raríssimas vezes senta-se nele para ver sua auto-traição ser consumada. “Este ser humano não sou eu!”. E desse modo já se perguntou?

Fora do mundo segue nas entrelinhas sentindo a poesia pulsar-lhe. Letras alvoroçadas se perdem ao vento. Palavras mal formadas distraem o pensar. “Se és poesia onde está? Onde se esconde?” Devem ter se perdido nas brechas das casas velhas, nos vãos das pedras em construção, nas mãos dos caminhantes. “Danadinhas. É inútil tentar aprisioná-las.”

Adiante primeira estação de parada. Seu melhor amigo sempre contigo. Imensurável pensamento a acompanha desde seu nascimento para a vida, para o estar no mundo. Quando destes conta de estar-no-mundo? E de ser-no-mundo? É mulher? Ou será menina? Quem sabe mulher-menina? Menina-mulher? Descobre-se nas trilhas enveredadas. Para saber-se ser no mundo terá antes de saber qual é o mundo. Achar seu lugar.

De volta, pisando no percurso primeiro, retornando a sentir, ver e ouvir as palavras soltas no ar. Percebe-se menos intensa, perdida em algum canto. É que na primeira parada pedaços seus ficaram encravados, assim também onde passou como a metamorfose vivida por um ser em estado de maturação.

“Chegada?” Não. Alimentar-se. Encher o espírito de luzes azuis, brancas, verdes, multicoloridas. Empanturrar-se como Pantagruel* das mais saborosas linhas recheadas em pratos dos grandiosos gurmets da literatura. Sentar. Respirar fundo. Deixar-se invadir. Esvair-se. Transpirar o aroma da saborosa mesa. Começo. Outro começo. Mais uma vez lá vai ela...

* http://pt.wikipedia.org/wiki/Pantagruel


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