domingo, 27 de março de 2011

Contentamento do perfeito-imperfeito

Através da janela as incoerências contentes estão expostas na metáfora real de um ambiente fora de ordem. Rabiscos indeterminados, projetos inacabados, linhas poéticas, palavras fugazes, letras esnobes. Livros amontoados, encostados, degustados, engolidos a seco. Palavras sentidas sem nexo, fugidias, entrecortadas, improváveis. Verdades. Omissões. Pequenas traições.

Desarruma, na contramão da arrumação ditada pelos modismos. Opa! Escorregou! Caiu! Quebrou! Tava guardado ali há tanto tempo. O perfume exalou seu cheiro, pequenas marcas deixou. O tido não se tem mais. Somente predomina o sentido.
Assim a estante, a estrutura física, ganha ares de perfeição-imperfeição. Perfeccionismo. Em inglês perfect . Radical comum sugere perfeição. Existe perfeição?

“__ Quem for perfeito, faça o favor, de atirar uma pedra para estilhaçar esta janela e tudo que a cerca.”

A janela está intacta, permanece o perfeccionismo casado com a desorganização. Será imperfeito esta união?

“__ Depende do contentamento.”

A alegria materializa o perfeito. Existe perfeição no adequadamente enquadrado na alegria de ser, de sentir, de ouvir, de produzir, de reconhecer, de existir.


E é isto que há: as contradições impulsionam este contentamento imperfeito-perfeito na
estrutura da estante. Ou será perfeito-imperfeito?

Ela sai do quarto enquadrando tudo em seu lugar. No lugar que ela escolheu para serem enquadrados seus livros, seus projetos, sua poesia fugaz, seu contentamento.







Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; / repugna-la-íamos, / se a tivéssemos. / O perfeito é desumano, / porque o humano é imperfeito.

Fernando Pessoa

Um comentário:

Acácia Fernandes disse...

Lindy,vc está escrevendo cada dia com mais perfeição...Uma verdadeira escritora...Parabéns..texto lindo...

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