segunda-feira, 19 de abril de 2010




AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Lindiane Cardoso
UNEB - Campus VI

Jorge Amado, conceituado autor baiano, nasceu em Ferradas, distrito de Itabuna no ano de 1912. Filho de um coronel e uma distinta dona-de-casa estudou direito na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, sendo que seu despontamento para o mundo das letras tenha iniciado como jornalista no "Diário da Bahia". Grandioso escritor nato lança seu primeiro livro, "O País do Carnaval", no ano de 1931, mesmo ano de ingresso na faculdade entre os primeiros colocados. Conhece durante sua vida garndes nomes da literatura nacional e internacional, da música, arte e da política brasileira e internacional. Em 1958, após ser preso pela ditadura devido ao fato dos seus livros apresentarem "conteúdo subversivo", Jorge lança o magnífico "Gabriela, cravo e canela" traduzido em 32 línguas espalhadas no mundo inteiro.
O livro é uma crônica da cidade de Ilhéus em pleno desenvolvimento na época da explosão cacaueira, onde inúmeros fatos ocorrem como brigas políticas efervescentes, emboscadas de jagunços, calorosas discussões no bar Vesúvio e o inusitado amor de Gabriela pelo árabe Nacib. O texto de Jorge Amado é dividido em quatro capítulos longos intermediados por poesias destinadas aos personagens centrais dos capítulos.
O primeiro capítulo compõe o cenário de Ilhéus, a transformação da cidade do cacau a partir do aparecimento das primeiras lavouras do fruto, o crescimento econômico, a explosão populacional, o surgimento de espaços antes vistos somente nas capitais, a inovação abarcando a cidade do Sul Baiano e o choque dos costumes tradicionais com as novidades. E, por meio deste ambiente de mudanças conhecemos o "forasteiro" exportador Mundinho Falcão, vindo do Rio de Janeiro objetivando vender o cacau para cos comerciantes e a proveitando o local para esquecer uma paixão. Além disso, o exportador possui características de empreenderdor e assim, foi conduzido pelo desenvolvimneto de Ilhéus a se envolver com a política, causando uma revolução e brigas com o "dono da terra": Coronel Ramiro Bastos, um dos primeiros desbravadores de Ilhéus por quem a população mantinha intensa admiração e respeito servil.
No segundo momento da narrativa, eis que surge a mulata cor de canela e cheiro de cravo: Gabriela. Recrutada no "mercado de escravos" para trabalhar como conzinheira, a sertaneja não encanta a ninguém no primeiro instante, pois a poeira do caminho percorrido até Ilhéus escondia sua cor sedutora e seu cheiro envolvente. Contudo, a beleza da ingênua Gabriela não tarda a encantar, principalmente a população de senhores ilheenses.
O capítulo terceiro é o recorte em que Jorge Amado nos paresenta os primeiros atos ilícitos praticados em função da política local e os sentimentos confusos de Nacib em relação à Gabriela.: os ciúmes excessivos cada vez mais frequentes devido aos olhares e gracejos dos homens da cidade; o êxtase inesperado ao vê-la chegar arrastando as chinelas trazendo a marmita do almoço; os devaneios da "sesta" após almoçar a comida temperada por ela. Por tudo isso, o árabe, dono do bar Vesúvio, que não desejava ter esposa, resolve casar-se com Gabriela, apesar da condição dela de "cozinheira, mulata, sem família, sem cabaço e encontrada no mercado de escravos", sendo deste modo que Gabriela torna-se a Sra Saad.
Assim, no quarto capítulo encontramos compondo rol das senhoras ilheenses casadas, Gabriela Saad que começa a viver momentos bastante diferentes do seu real modo de viver. Os vestidos de chita foram trocados pelos de fazenda, a flor no cabelo pelas jóias, os chinelos pelos sapatos de salto, sua ida ao Vesúvio levar a marmita de Nacib fora proibida, bem como o trabalhos domésticos, uma vez que seu esposo contratara uma mocinha para desenvolver tal serviço deixando somente o tempero ser preparado por Gabriela.
Entretanto, o quarto e último capítulo não se resume a contar os infortúnios da Sra Saad, mas também os fatos políticos, as rusgas entre os candidatos à prefeitura de Ilhéus que resultaram em tentativa de assassinato; dos escafandristas que vieram trabalhar na barra para construir um porto; da morte do Coronel Ramiro Bastos; da separação de Gabriela do árabe Nacib; da chegada e partida de um cozinheiro francês; do retorno de Gabriela à casa de Nacib na condição de cozinheira e de um acontecimento visto pela primeira vez em Ilhéus: a condenação de um coronel do cacau por haver assassinado a esposa adúltera e o amante desta.
O livro de Jorge Amado, apesar da grande quantidade de páginas é de leitura fácil, prazerosa podendo ser apreciado por qualquer leitor, haja vista a liberdade existente para a degustação de variadas literaturas desde que despertem interesse. "A crônica de uma cidade do interior" pode também ser utilizada por estudiosos com fins de pesquisa, pois apresenta trechos históricos pertinetes à vida da década de 20 no interior que perpassa a cultura mantida pelos ternos de reis, de pastorinha, dos presépios, do costumes de "esquentar sol" na praça, de respeito aos idosos, das conversas gostosas no fim de tarde, das fofocas no pátio da igreja, das deliciosas palavras interioranas, enfim, da tradição população que não existe nas grandes cidades.
Então, reafirmando a premissa, o romance "Gabriela, cravo e canela" está a disposição de quem desejar saboreá-lo sendo Jorge Amado o mestre-cuca responsável por dar tanto sabor à obra.

Um comentário:

Paula: pesponteando disse...

Qualquer dia deses, tomo coragem e leio...

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